segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Lua Nova...

Foi o dia em que seus olhares se cruzaram pela primeira vez. Já havia gostado de outros caras, e ele obviamente também já tivera outras namoradas, mas naquele momento isso não importava. Não sabia muito sobre ele e também não esperava por aquilo, assim desse jeito.
Ficou cuidando dele a noite toda, mas não teve coragem de se aproximar. Estava longe demais. Longe em pensamentos que só ocupavam sua mente e nada de bom traziam.Mas o desejo foi mais forte, teve que procurá-lo. Passara-se um dia e ainda pensava naquele olhar, aquele que a fitara no final da festa. E acaba que tudo flui, uma conversa que faz tão bem. São pensamentos que transparecem, vibrações que vagam no espaço e os encontram. Tudo no universo conspira a favor para um desejo se realizar.
Desejo mutuo, a que parece. Esta no jeito como se olharam e no perfume que ficou no ar. Cada palavra vinha seguida de um gesto, coisas simples mas que faziam todo o corpo tremer. O olhar que penetrava, passava quente e ao mesmo tempo gelava. Estava calma, mas com um pensamento incontrolável.
O doce sabor de beijos que aqueciam os lábios e passam seus arrepios pelo corpo todo. A emoção de sentir aquilo que há tempos não sentia, a sensação de que daquele instante em diante algo havia de ter mudado.
O sol aparece e a noite cai novamente, fria em pleno final de inverno. É a chuva que lava a alma, e leva todas as impurezas embora. É o nascer do sol que traz consigo o recomeço, renovação das esperanças. O tempo começa a transcorrer de um jeito diferente, pergunta-se o que está acontecendo. Pensava ser aquilo que havia sentido há tempos atrás.
Mas o que não sabia era que a vida a tinha privilegiado com o maior dos presentes, algo que não existem palavras que descrevam ou fotos que explicam. Estava apaixonada. Confusa e assustada. Encantada e brilhosa. Toda a noite antes de dormir agradecia e lembrava de tudo.
Foi então, que em uma dessas noites, muito distante do seu leito solitário, ela ouviu aquilo que nunca ouvira. Três simples palavras, uma única sensação. O aperto no peito e o brilho nos olhos, o que faria nesse instante? Sabia que sentia o mesmo, mas tinha sido pega de surpresa. Três palavras que mudam tudo, foi ai que descobriu estava amando pela primeira vez em toda a sua vida.
Já não era mais uma menina, embora estava longe de ser uma mulher completa. Estava ainda transitando pela ponte da maturidade. Ele estava no mesmo caminho, caminhando vagamente pelos sentimentos de um passado que o havia torturado por anos. Mas de alguma forma se completavam, se sentiam seguros e realizados. Era novo e diferente para os dois.
Sonhos que compartilhavam, emoções comuns. Como seria assim tão simples? Era fácil para eles, só com eles. Descobriu, sem querer, que ali estava tudo o que em vão buscara por longos períodos em outros corações. Foram olhares vagos, abraços frios e beijos sem gosto. Tudo mudara e sabia o quanto era verdadeiro. Reconhecerá a sorte.
Eram as mais simples palavras que a emocionavam, acabavam em uma risada sincera. Sentia ele ao seu lado, independente de onde estivessem. Um calor invadia seu peito apertado e muitas vezes seus olhos brilhavam com as lágrimas que chegavam de mancinho.
Lágrimas de alegria, de um prazer sem limites. É como ver o mar pela primeira vez, sentir a brisa salgada e a areia sob os pés. Liberdade incondicional, amar e ser amada. Não sabia o que era isso, até então. Emocionava-se ao lembrar da imensidão de tudo.
Não precisavam de provas, seus olhares também falavam e muitas vezes era no silencio que se entendiam. Acreditara desde aquele primeiro olhar. Podia ir contra qualquer um ao seu lado. Queria ir ao longe com ele. Sabia que isso ia chegar em breve. No momento deles, no tempo deles e que esse era totalmente independente do convencional.


Vacations...that is the start a something new!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Você é a pessoa em quem eu mais confio?

A tua mão talvez possa confortar
A violência que me bate agora,
Eu sei, esse é o carinho que me cabe
Quando me sinto dividido
A mesma sensação que vem e faz a companhia
Perdendo o poder da escolha
Perdendo o compasso das palmas
Eu quero te mostrar tanta coisa
Você...
Agressividade volta a atacar
Quando insulta quem destranca a porta
Aí, desdenha sobre a figura a parecer caricatura
Vou rir por me sentir tão só, cansar o cômodo
Eu sempre escondi meus defeitos
Eu sempre prometi dar um jeito
Eu quero te contar tanta coisa
Você é a pessoa em que eu mais confio
A respiração ofegante dos meus pulmões
Desesperados remetem as suplicas de um vira-lata condenado
O estado de necessidade que me corrói
Desamparado e de joelhos
Confesso que sou o culpado
E isso te dói, te dói
Quando quero me convencer
Não é fácil ver esse ferimento doer
Por não merecer
A harmonia amarga de ver
Pra me contemplar
E confia tanto em você

( Música Banda Zava -www.myspace.com/bandazava)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Afinal é sempre assim...

Depois de passar por ilusões, felicidades, risos e choros...
Descobri que há duas tragédias na vida: uma é perder o que seu coração deseja, a outra é conseguir.
Porque quando perdemos existe a dor, aquele vazio no peito e a sensação de que algo deixou de existir. É possível perder a estrada, a cabeça e a confiança...
Acaba sendo tão marcante que passamos a nos tornar mais cautelosos, mais reservados.
Ao mesmo ponto que, quando conseguimos o que desejamos, sabemos que cedo ou tarde, tudo isso vai se repetir.
É o ciclo da vida: sentir, viver, perder e chorar...para depois voltar a sentir, viver, perder e chorar...
É como diz na lei da física: “Nada se perde, nada se cria. Tudo se transforma”.
As coisas mudam, hoje estamos aqui irrevogável e completamente apaixonadas por aquele homem que nos leva as estrelas, que nos faz arrepiar e acreditar no amor de verdade. O mesmo homem, que acabou de te dispensar e que você jura que nunca mais quer nem saber dele. Mas no fundo, e nem precisar ir tão no fundinho, sabe que se ele te olhar daquele jeitinho e dizer que seria bom tentarem de novo, todas as filosofias de mulher não submissa a sentimentos, vão logo por água abaixo.
Mas acredite, não adianta fugir. Às vezes as tragédias acontecem, e não se pode desistir ou abandonar.
Agora, depois de alguns litros de lágrimas escutando milhões de vezes a mesma música, entendo que quando você se magoa precisa lutar. Lutar para garantir que continue vivo, porque você está vivo, e a dor que você sente é a vida. A confusão e o medo acabam servindo para lembrar que em algum lugar existe algo melhor. E, que principalmente, vale à pena lutar por isso.
Neste ano, eu tive tudo que eu desejei. Mas no caminho eu perdi muita coisa.
E quando focamos apenas naquelas coisas que queremos, no que pensamos que fará a nossa vida melhor, muitas vezes deixamos de lado aquilo que realmente importa. Simples coisas como a amizade e a família, essas que provavelmente já possuíamos.
Sim, perder o que o seu coração deseja é trágico, mas ganhar o que seu coração almeja é tudo que você pode desejar.
Esse ano eu desejei o amor. Poder entregar-se inteiramente para alguém e acordar sentindo esse coração. Meu desejo foi realizado. E se isso que eu sinto é trágico, então eu prefiro seguir na tragédia.

O novo de novo...

Eu ri baixinho. O som fez com que meus olhos se enchessem de surpresa. Eu estava rindo, rindo de verdade. Me senti tão leve que quis continuar rindo, só para que a sensação durasse mais tempo.

Enquanto eu subia para o meu quarto, tive a última sensação anormal do bem-estar sendo drenada de todo o meu corpo. Tudo foi substituído por um medo depressivo da idéia do que eu teria de suportar aquela noite.

Tinha certeza que as próximas horas seriam tão apavorantes quanto às da noite anterior, deitei-me na cama e me encolhi. Preparando-me para o que viria a seguir, fechei os olhos e a próxima coisa que percebi foi que já tinha amanhecido.

Pela primeira vez em muito tempo eu tinha dormido sem sonhar. Sem sonhar nem gritar. Eu não sabia qual era a emoção mais forte, se o alívio ou o choque.
Cada vez mais meu riso era tranqüilo e superficial, não intenso. Tudo parecia ao mesmo tempo certo e errado.

Mas a figura de linguagem levar um gelo, parecia realmente ter uma verdade literal. Eu sentia o ar quente onde eu estava, mas tudo ainda continuava gelado demais.
Será como se eu nunca tivesse existido.

Eu mentia para mim mesma com freqüência, não queria admitir a minha real motivação por estar fazendo tudo isso. A verdade é que eu queria ouvir a voz de novo. Porque quando aquela voz vinha de alguma parte de mim, que não era a minha lembrança consciente, quando a voz era perfeita e suave e não apenas um eco perdido que meus sonhos costumavam reproduzir, era ai que eu podia lembrar sem dor.

Eram momentos preciosos quando eu o podia ouvir de novo, era uma tentação irresistível e arrasadora. Mas eu precisava repeti - lá.
Sentia a adrenalina correndo em minhas veias, mesmo estando ali deitado no chão. “Eu lhe disse” ouvi, era uma combinação de perigo e estupidez.

“Então você quer mesmo se matar? É disso que se trata?”, falou a voz em um tom severo. Sua mera beleza me maravilhou. Eu não podia deixar que minha lembrança a perdesse, qualquer que fosse o preço.

Estava ficando fissurada. Tinha que ser essa a receita para a alucinação: adrenalina mais perigo mais estupidez.

Corria em meio a estradas sem rumo e mesmo assim era maravilhoso. A sensação do vento no rosto, a velocidade e a liberdade... Lembrou-me de uma vida passada. Parei de pensar bem nesse ponto, deixando que a lembrança fosse interrompida pela agonia do momento.

Aquela noite não foi tão ruim, depois de ter ouvido aquela voz perfeita o buraco no meu peito tinha voltado mas já não era tão grande. Mas alguma coisa estava mudando, eu estava tendo momentos tranqüilos de novo, embora eu ainda ansiasse pelas ilusões todos os dias.

Estava mais fácil suportar o vazio, porque eu conseguia ver o alivio logo a seguir. O pesadelo tinha perdido parte do seu poder e eu esperava sempre pelo momento em que o grito me traria de volta dos meus sonhos. Porque apesar de sofrer, odiava a idéia de perder meus breves momentos de proximidade com as lembranças que doíam.

Queria buscar um novo caminho para o perigo e a adrenalina, mas isso requeria raciocínio e criatividade. Mesmo assim eu sabia que a presença que eu buscava estava em algum lugar dentro de mim, estava longe das coisas materiais.

Encontrei, mas parecia tudo exatamente igual. Tive a sensação de que a minha busca tola estava condenada. Precisei aceitar ainda mais a realidade quando começou a ficar mais escuro, o dia sem sol desaparecendo em uma noite sem estrelas. Mas eu sabia que estava ali e eu iria encontrar.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O que fazer quando perder é diferente de esquecer?

Há uma linha muito tênue entre o que se vê e o que se sente.

Com as pernas trêmulas, ignorando todo o fato de que minha atitude era inútil, eu o segui. O sinal de sua passagem, pela minha vida, desapareceu de imediato. Não havia pegadas, as folhas estavam imóveis de novo, mas avancei sem pensar. Não podia agir de outro modo. Precisava continuar em movimento. Se parasse de procurar, estaria tudo acabado.
O amor, a vida, o significado... Acabados.

Andei e andei. O tempo não fazia sentindo enquanto eu avançava, perdida por esses caminhos.
Passavam-se horas, mas na verdade eram apenas segundos. Talvez eu tivesse a impressão de que o tempo congelara, porque tudo ao meu redor parecia o mesmo, independente do quanto eu estava me distanciando.

Comecei a me perguntar se estaria andando em círculos, mas mesmo assim continuei andando. Tropecei várias vezes e, à medida que o dia escurecia, caí muitas vezes também.
Alguém gritava o meu nome. Era um som abafado, amortecido. Não conseguia reconhecer a voz, pensava em atender o chamado, mas estava confusa e precisei de um tempo para perceber que deveria responder.

Me perdi num devaneio sem pensamentos, prendendo-me com todas as forças na dormência que me impedia de perceber o que eu queria. Tudo me incomodava um pouco, era tudo frio e eu tentei esconder o rosto com os braços.

Foi ai que eu ouvi o chamado novamente, e dessa vez não era apenas uma voz e sim várias. Acordei então, e estava em outro lugar. Perguntei-me se devia sentir medo, mas não senti, não importava mais.

No início era só uma luz, um brilho fraco e distante. Ai foi se tornando mais forte, iluminando um grande espaço ao meu redor. A luz atravessou muito mais que o lugar iluminado, atravessou a minha alma. E no final essa claridade me cegou por um momento.

Foi ai que eu percebi que mesmo assim o tempo passa. Mesmo quando isso parece impossível. Mesmo quando cada batida do ponteiro dos segundos dói como o sangue pulsando sob um hematoma. Passa de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa. Até pra mim...

Com Certeza há dias para tudo...

Foi assim, depois de dizer que te amava, que não conseguia imaginar vocês brigando e de sonharem juntos um milhão de coisas, você liga para ele convidando pra sair e começa a escutar as mesmas desculpas: “estou cansado” ou “ preciso ficar um tempo sozinho”.
É ai que você percebe que passou de namorada amada para namorada deixada, mas o pior disso tudo, sem ao menos ser avisada!
Como qualquer ser humano, você chora escutando músicas, ao ver o nome dele no MSN com frases do tipo “blá,blá,blá...”, passa dias e dias pensando como tudo chegou a esse ponto, o que eu fiz de errado para nem ao menos ter sido informada que não fazia mais parte da vida do cara, que jurava que tudo o que estava sentindo era de longe o sentimento mais forte e verdadeiro.
Mas os dias vão passando, a gente começa a perceber que a vida é muito mais que um par de olhos verdes, um cabelo bagunçado com um cheiro maravilhoso e um beijo de perder o fôlego. Percebi que viver é superar o que nos parece impossível, que cada manhã que acordamos é um novo recomeço.
Então começaram as táticas femininas. Pensei, preciso ser melhor, de repente estou fazendo algo de errado e ainda há tempo de corrigir. Busquei instrução espiritual, no inicio eu tinha muitos porquês na minha lista, mas depois eu os deixei de lado e passei a analisar certas situações.
Primeiro para ser amada por alguém, precisamos não amar essa pessoa e sim nos amar. Comecei a fazer coisas que me deixariam bem, independente do que fosse. Foi ai que eu li mais, assisti mais filmes, conheci pessoas diferentes, viajei, dancei mais e no final de algumas semanas eu já estava me sentido bem melhor.
Entretanto a vida é um desafio a cada dia, e quando eu soube que iria ver aqueles lindos olhos novamente preparei meu corpo, meditei, analisei cada possível reação minha e todas as maneiras de sair delas. É, mas tudo às vezes não passa de uma ironia, passei dias me preocupando e naquela noite tudo que eu vi foi um lindo rapaz beijando outra garota.
Estranho como as coisas perdem o valor. Ah, e eu, aquela noite não beijei nenhuma boca, pois a única que eu queria beijar, era muito mais que uma simples boca e já tinha se perdido nas minhas lembranças de dias muito felizes que, com certeza, só aqueles olhos verdes me fariam sentir.

Não sei onde estou...prefiro pensar que seja o céu

Olhei em volta pela primeira vez depois de algum tempo.
Estava num curto trecho de calçada sem iluminação, as luzes voltavam meia quadra adiante. Pude ver do outro lado da rua que havia uma loja aberta, com uma placa de neon brilhando na frente. Encostados na parede do lado de fora, estavam quatro homens. Quatro diferentes destinos.
Parei sem pensar, olhando a cena com uma forte sensação de déjà vu. Fora numa rua diferente, mas a cena era praticamente a mesma.
O que eu estava fazendo? Eu devia correr dali, daquela lembrança o mais rápido que eu pudesse. Mas eu não podia, tinha que atravessar aquela rua e encarar algum destino.
Meus olhos tentaram, de alguma maneira, focalizar e combinar as feições. Imaginava se haveria algum modo de eu reconhecer o que eu buscava naquela noite.
Meu corpo me guiava mais que a minha mente, a tensão em minhas pernas enquanto eu tentava decidir se corria ou ficava ali parada. O ressecamento da garganta enquanto eu tentava compor um grito de pavor, a pele esticada no momento em que cerrava as mãos em punho, os arrepios na nuca...
Havia uma ameaça visível e indefinida naqueles homens, que nada tinha a ver com a penumbra da noite. Mas mesmo assim, sem um porque, essa ameaça me atraia mais e mais para perto deles.
Acabou por ser um impulso insensato, mas como eu não sentia nenhum tipo de impulso fazia algum tempo, o segui...
Algo corria pelas minhas veias, algo já há muito tempo ausente no meu corpo. Adrenalina. Acelerava as minhas pulsações e combatia a ausência das sensações.
Não via motivos para ter medo, na verdade não existia nada naquele momento que me causasse tal sentimento. Essa era uma das poucas vantagens de se perder tudo.
Suicida. Não me sentia dessa maneira. Mas, eu sabia, que mesmo quando a morte inquestionavelmente parecia um alivio, eu nunca pensara assim.
Meus músculos travaram, paralisando-me bem aonde eu estava. Escutei uma voz. Uma voz furiosa, uma voz conhecida, uma voz linda.
Eu tinha o cuidado extremo de não pensar no seu nome, e fiquei surpresa que o som não me torturasse pela lembrança da perda.
Nesse mesmo instante, tudo ficou muito claro. Estava mais consciente de tudo. Olhei em volta e só conseguia ouvir: “você prometeu”...
Mesmo assim, eu estava sozinha. Encostados na parede, os estranhos me olhavam confusos com a cena absorta.
Sacudi a cabeça, sabia que não estava ali. No entanto o sentia muito perto pela primeira vez, desde o fim...
Pensei estar tendo algum tipo de alucinação, provocada pelas lembranças.
Tinha apenas algumas opções: ou estava louca ou meu subconsciente estava me dando o que eu queria. Como a satisfação de um desejo e o alivio momentâneo ao concordar com a idéia de que ele se importava se eu estava viva ou morta.
A minha reação não foi insana. Agradeci por meu inconsciente ter guardado aquele som, que eu temia ter perdido.
Mas eu não podia pensar nisso agora, estava conseguindo evitar a dor a dias. Entre a dor e o nada, eu escolhera o nada.
Queria testar. Dei mais um passo a frente e a ouvi de novo: “volte”. Era o que eu precisava naquele instante.
Todos a minha voltam me observavam, como podiam imaginar que eu estava ali parada desfrutando de um pequeno momento feliz de insanidade?
Um dos homens me chamou, pedindo se podia me ajudar. Mas ninguém podia, eu não estava perdida. Só estava curiosa para saber se reconhecia algum deles.
Eu quebrara algumas regras naquela noite, em vez de fugir eu encara o desconhecido pela primeira vez.
Por mais que eu lutasse para não lembrar, eu não estava lutando para esquecer. Eu me preocupava que tudo um dia pudesse desaparecer, que minha mente filtrasse tudo e eu não conseguisse mais enxergar a cor exata de seus olhos ou a sensação da sua pele.
Eu podia não pensar, mas eu sabia o quanto queria lembrar de tudo.
Proibida de lembrar, com medo de esquecer; era uma situação limite.
Aquela sensação conhecida de um imenso buraco no meu peito e que tudo de mais vital tinha sido arrancado através dele. Sabia que estava tudo em perfeita ordem, pulmões saudáveis e o coração batendo, mas mesmo assim me sentia sem ar e o som das minhas pulsações era inaudíveis aos meus tímpanos.
Eu sabia que podia sobreviver a isso. Não parecia que a dor diminuísse com o tempo, mas eu estava ficando mais forte para suportá-la.
O que quer que tenha acontecido naquela noite, se por responsabilidade do destino, da adrenalina ou da insanidade, algo tinha despertado dentro de mim.
Pela primeira vez em muito tempo, eu não sabia o que esperar do amanhã.