quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O novo de novo...

Eu ri baixinho. O som fez com que meus olhos se enchessem de surpresa. Eu estava rindo, rindo de verdade. Me senti tão leve que quis continuar rindo, só para que a sensação durasse mais tempo.

Enquanto eu subia para o meu quarto, tive a última sensação anormal do bem-estar sendo drenada de todo o meu corpo. Tudo foi substituído por um medo depressivo da idéia do que eu teria de suportar aquela noite.

Tinha certeza que as próximas horas seriam tão apavorantes quanto às da noite anterior, deitei-me na cama e me encolhi. Preparando-me para o que viria a seguir, fechei os olhos e a próxima coisa que percebi foi que já tinha amanhecido.

Pela primeira vez em muito tempo eu tinha dormido sem sonhar. Sem sonhar nem gritar. Eu não sabia qual era a emoção mais forte, se o alívio ou o choque.
Cada vez mais meu riso era tranqüilo e superficial, não intenso. Tudo parecia ao mesmo tempo certo e errado.

Mas a figura de linguagem levar um gelo, parecia realmente ter uma verdade literal. Eu sentia o ar quente onde eu estava, mas tudo ainda continuava gelado demais.
Será como se eu nunca tivesse existido.

Eu mentia para mim mesma com freqüência, não queria admitir a minha real motivação por estar fazendo tudo isso. A verdade é que eu queria ouvir a voz de novo. Porque quando aquela voz vinha de alguma parte de mim, que não era a minha lembrança consciente, quando a voz era perfeita e suave e não apenas um eco perdido que meus sonhos costumavam reproduzir, era ai que eu podia lembrar sem dor.

Eram momentos preciosos quando eu o podia ouvir de novo, era uma tentação irresistível e arrasadora. Mas eu precisava repeti - lá.
Sentia a adrenalina correndo em minhas veias, mesmo estando ali deitado no chão. “Eu lhe disse” ouvi, era uma combinação de perigo e estupidez.

“Então você quer mesmo se matar? É disso que se trata?”, falou a voz em um tom severo. Sua mera beleza me maravilhou. Eu não podia deixar que minha lembrança a perdesse, qualquer que fosse o preço.

Estava ficando fissurada. Tinha que ser essa a receita para a alucinação: adrenalina mais perigo mais estupidez.

Corria em meio a estradas sem rumo e mesmo assim era maravilhoso. A sensação do vento no rosto, a velocidade e a liberdade... Lembrou-me de uma vida passada. Parei de pensar bem nesse ponto, deixando que a lembrança fosse interrompida pela agonia do momento.

Aquela noite não foi tão ruim, depois de ter ouvido aquela voz perfeita o buraco no meu peito tinha voltado mas já não era tão grande. Mas alguma coisa estava mudando, eu estava tendo momentos tranqüilos de novo, embora eu ainda ansiasse pelas ilusões todos os dias.

Estava mais fácil suportar o vazio, porque eu conseguia ver o alivio logo a seguir. O pesadelo tinha perdido parte do seu poder e eu esperava sempre pelo momento em que o grito me traria de volta dos meus sonhos. Porque apesar de sofrer, odiava a idéia de perder meus breves momentos de proximidade com as lembranças que doíam.

Queria buscar um novo caminho para o perigo e a adrenalina, mas isso requeria raciocínio e criatividade. Mesmo assim eu sabia que a presença que eu buscava estava em algum lugar dentro de mim, estava longe das coisas materiais.

Encontrei, mas parecia tudo exatamente igual. Tive a sensação de que a minha busca tola estava condenada. Precisei aceitar ainda mais a realidade quando começou a ficar mais escuro, o dia sem sol desaparecendo em uma noite sem estrelas. Mas eu sabia que estava ali e eu iria encontrar.

4 comentários:

Renan B. disse...

você escreve expcionalmente bem! você tem um dom raro,parabéns! MARA.

beijos ;*

Mônica Vaz disse...

Obrigada!
Os textos são meus, sim. Experiências pessoais, nada de muito emocionante...rs
Esse texto me lembra Lua Nova, livro que amei. Maravilhoso!
Beijo.

Marco Crupi disse...

You can take the pictures you want from my blog if you specify the author, you're very nice compliments ;D

Laís Fortaleza disse...

ta afimd e fazer parceiria.. trocar banner e talz.. da um toque.