quinta-feira, 9 de abril de 2009

E com o inverno...

E mesmo sabendo que isso a faria viver as lembranças mais controversas ainda resistia ao desejo de apagar tudo de sua alma. Por vezes acreditou que fraquejara, mas não apenas ignorara o fato de que precisava arrancar as raízes que estavam cada vez mais fortes e profundas em meio à fertilidade desse sentimento.
Quem poderia sequer acreditar que chegaria a hora de implorar por tudo isso se perder no ar. Ansiar pelo silêncio total da mente, e até quem sabe o breu pudesse tomar conta e guiar, na escuridão, um novo rumo.
O olhar borrado com o lápis preto revela aquilo que esconde de si mesma, fortemente resiste ao que parece ser inevitável. Inútil correr, fugir e se esconder, embora estivesse presa sem poder nada fazer. Mãos e pés atados, a voz era apenas gritos mudos. Sua mente jamais ficava vazia, mesmo este sendo seu exercício mais constante.
Como poder explicar. O tempo fora ingrato demais, jamais a ouvira. Passara-se um ciclo completo em apenas alguns dias: amor, paz, desafeto, tristeza, solidão e conformismo.
Não era possível entender o porquê diante de todos os elogios. Havia apenas boas frases ao seu respeito, admiração pela garota que era cheia de vida.
Desperdiçava seu tempo em longos devaneios sobre o sentido de tudo ao seu redor. Era difícil aceitar que fora colocada de lado, de peça principal nem passara à coadjuvante.
Será que fora esquecida? Disso tinha certeza que não. Sabia que a sua presença fazia a diferença, mesmo por menor que fosse a sua influência.
Em um sonho, no seu sonho, vira aquilo que o seu consciente buscava ignorar a todo instante. O calor que preenchera o seu peito, uma onda tão poderosa e desconhecida até aquele momento.
Foi em meio a um suspiro de esperança que despertou do seu censurado anseio. Fora o bastante para que aquelas gotículas ganhassem vida e rolassem pelo contorno de seu rosto. Foi no brilho mais intenso, que revelou uma mistura de esperança e desapontamento, no olhar inocente de quem descobriu o primeiro amor.
Pensava ser tarde demais, já tinha se dado como vencida e abandonado a luta. Foi ao fundo, num fole que ganhou sua atenção, virou-se repentinamente e viu o que procurava. Em meio a um baralho de cartas, cheio de valetes e damas, fora a rainha escolhida. Muito mais que o esperado, seu coração que palpitava em sinfonia acelerada formando uma melodia em meio a suspiros e soluços.
A noite estava clara, resultado de dias decorrentes de chuvas de verão. Deixaria essa estação para trás e com ela, finalmente, esse ciclo vicioso se perderia com o tempo. O inverno sempre a trouxera uma renovação, era o inicio de uma nova etapa que desencadearia da frieza da água até chegar novamente, embora fortificada, ao calor intenso de uma tarde de verão.

2 comentários:

Unknown disse...

Nick parabens muito bom, espero que tu seja sempre essa garota cheia de vida que todos ao teu redor admiram tanto...
muito bom mesmo
beijos

Aline Romero disse...

"Em meio a um baralho de cartas, cheio de valetes e damas, fora a rainha escolhida."
Frase linda... Texto triste.
Desiluções fazem parte da vida, e todo verão tem fim... Inverno tem tanta coisa boa... É só saber procurar!
;)